Sabryna Sanguineto, 26 anos. Enfermeira intensivista da Unidade de Terapia Intensiva de Doenças Infecto Parasitárias (UTI-DIP) no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HOUC). Formada no curso superior de enfermagem e especializada em tratamento intensivo, nutria o desejo de trabalhar na área da saúde desde o período do Ensino Médio.

A pandemia chegou para ela como uma bomba, do ponto de vista negativo, mas também, olhando por um lado mais otimista, como um momento de enorme aprendizado. Ela encerrou o período de residência no início de março, começou as atividades no HUOC e teve os dois primeiros plantões tranquilos. A partir do terceiro, de acordo com ela, o caos foi instaurado e todos da equipe foram pegos de surpresa.

“Tínhamos apenas sete leitos e acrescentamos mais três que foram montados às pressas. Isso foi um choque porque era tudo muito novo. Um contexto de pandemia onde ninguém sabia direito o que e nem como fazer”, conta. “Lembro de várias macas entrando sem poder ter nenhum contato externo ou interno, por conta da COVID-19, e os pacientes que já estavam internados com com outras doenças tiveram que ser transferidos para um setor diferente. Parecia um cenário de guerra. Foi algo assustador”, relata a enfermeira quando perguntada como foi o início da pandemia e o que mudou no desempenho da função.

No cargo de enfermeira, Sabryna ficou responsável por gerenciar e dirigir uma equipe com outros profissionais. Apesar da experiência no período de residência, ela explica que ninguém cogitou a possibilidade do desempenho da função em um contexto pandêmico. Ela conta que o maior desafio foi ter que assumir uma postura de liderança diante de uma situação para a qual ninguém tinha preparo até o momento.


“A gente tinha 12 horas de plantão, mas não existia uma hora específica para o almoço. Era simplesmente ter que comer nos poucos minutos que tínhamos e já voltar ao posto porque eram dez pacientes potencialmente graves que precisavam de monitoramento o tempo todo. Junto ao cansaço físico e mental, tínhamos também a falta de experiência com a situação, o que deixava toda a equipe ainda mais apreensiva”, relata.

“A gente tinha 12 horas de plantão, mas não existia uma hora específica para o almoço. Era simplesmente ter que comer nos poucos minutos que tínhamos e já voltar ao posto porque eram dez pacientes potencialmente graves que precisavam de monitoramento o tempo todo.”
Ela conta que houve dias em que a dobra de turno foi necessária porque alguém da equipe adoeceu e precisou ser substituído. Aos poucos, segundo a profissional, a confiança da equipe foi fortalecida por conta dos cursos de formação e educação permanente que foram prestados pela direção do HUOC (elogia) com o foco no contexto pandêmico.

Sobre a condição psicológica, a enfermeira conta que houve momentos de choro, taquicardia e ansiedade. “Apesar de ter uma visão otimista sobre a situação, eu desenvolvi um princípio de ansiedade. No ambiente de trabalho eu conseguia me manter firme. Mas em casa, por vezes, eu chorava antes de dormir; tinha taquicardia. Era uma sensação de que algo estava errado”, completa. Ela diz que, no momento, a situação (psicológica) está sob controle e que já consegue passar, fortalecida, pelos desafios que ainda surgem no contexto.

“O que mais me marcou nesse período foi a cena do meu terceiro plantão com várias ambulâncias do SAMU chegando com pacientes a todo momento. Era algo que não estávamos habituados. E isso me chocou”, conta.
Sabryna fala sobre um colega de trabalho chamado Felipe. Ele era técnico em enfermagem. Os dois se conheceram no período de residência, que aconteceu pouco antes da pandemia chegar em Pernambuco. Segundo ela, o jovem começou apresentando sintomas característicos da COVID-19 e pouco depois precisou ser entubado. Infelizmente ele veio a óbito. Com emoção nos olhos, ela lembra da avó, que também foi levada pela doença, mas prefere não entrar em detalhes.
O antes e o depois…
“Eu acredito que diante das dificuldades que passamos a gente consegue sair mais forte. Essa tem sido uma batalha que eu, assim como os outros profissionais da área, travamos e com certeza saímos dessa bem mais fortalecidos”, diz a enfermeira quando chamada à reflexão acerca de como ela era e do que aprendeu com a pandemia.


A mensagem que ela deixa aos colegas de profissão e sociedade é: “a gente tem que aproveitar o hoje. Temos que viver o hoje de forma intensa porque não sabemos o dia de amanhã. Nossa família e amigos devem ser nossa prioridade.”
Analisando o trabalho desenvolvido pelo Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Sabryna fala com alegria e orgulho sobre o que foi feito diante da pandemia. “Como eu entrei exatamente no início da pandemia, eu sei que foi um desafio muito grande para todo mundo. Mas ele (o HOUC) conseguiu fazer um ótimo trabalho, mesmo com todas as dificuldades e incertezas. Foi um trabalho sensacional”, relata.
A esperança…
Com todas as baixas nos casos graves de COVID-19 e a chegada da vacina, a enfermeira diz ter esperança de dias melhores em um futuro bem próximo. “A gente já está em um momento bem diferente. Inclusive a UTI-DIP fechou para recebimento de pacientes com COVID. Então quando tiramos o jaleco e vemos que a situação está melhor… isso é motivo de muita esperança”, diz ela.

“Esses dias eu estava lendo um livro que diz que para alguns a dor tem o potencial de destruir e para outros ela tem o potencial de construir. Então eu acredito que, embora a dor nos tire da zona de conforto, pra mim ela serve também para construção para que a gente possa levar fé e força”, destaca. E completa: “Eu acredito em Deus e acredito que nada acontece por acaso. Para tudo existe um propósito, inclusive para a pandemia. E isso traz lições para todo mundo, independente de credo, raça ou situação financeira.”

Apesar de todas as lutas diante da pandemia, Sabryna consegue sorrir, agora, mesmo por trás da máscara.
