Demétrius Montenegro, 51 anos. Infectologista e coordenador do serviço de infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC). Sempre teve o desejo de trabalhar na área de saúde. Ele conta que, quando pequeno brincava de fazer massagem nas pernas da avó que tinha problema de varizes. “Minha mãe conta que eu já mostrava que queria ser médico e que brincava sobre isso fazendo massagem nas pernas da minha avó”, conta.

Antes da pandemia chegar em Pernambuco, ele relata, o trabalho seguia o fluxo normal para a função. Quando os casos de COVID-19 começaram a surgir nos outros países, Demétrius se reuniu com a direção do hospital prevendo a chegada dos casos no estado. “Mesmo com essa previsão, os casos chegaram muito rápido e foram bem maiores do que o esperado. Em dois dias mudamos toda a estrutura (do HUOC) e isso foi impactante para todo mundo”, conta.
“Em dois dias mudamos toda a estrutura (do HUOC) e foi impactante para todo mundo.”
Demétrius tem outro vínculo em uma unidade de saúde que não é ligada à UPE, mas, por conta da demanda, ele foi cedido, com esse vínculo, para o hospital o que prova a magnitude e o impacto da pandemia em Pernambuco. “Viemos de uma preparação que não foi nada perto do que recebemos. Eu tive muito medo quando o primeiro caso chegou aqui no hospital. Quando fui examiná-la (a paciente) eu parei e refleti. Eu vi que ali tinha uma pessoa que estava com muito mais medo que eu. Então a partir desse momento eu perdi o medo”, conta o profissional.

“Foi muito cansativo. Foi muito pesado”, relata. Ele conta que, apesar de tudo isso, ele conseguiu manter o controle psicológico. Segundo ele, após sair do hospital e ir para casa, ele conseguia seguir todos os cuidados. Ele vive com a esposa e o filho. “O máximo que a gente fazia era entrar no carro e passear pela cidade. Nós seguíamos todos os protocolos”, conta ele, destacando que o processo foi ainda mais completo porque a esposa dele também é da área da saúde e, junto com ele, seguiu os protocolos à risca.

Sobre um momento marcante durante a pandemia, ele fala sobre o primeiro plantão trabalhando lado a lado com outras profissionais que eram novas no hospital. Na ocasião, o paciente teve uma parada respiratória e as duas não tinham tido, até o momento, nenhuma experiência parecida. O paciente precisou ser intubado, mas elas, conta ele com orgulho, “demonstraram muita coragem e profissionalismo”.
O antes e o depois…
Sobre toda a experiência frente à pandemia, Demétrius diz que sempre trabalhou ciente da possibilidade de casos parecidos com o da COVID-19. “Foi assim com a gripe, foi assim com o EBOLA. Eu sempre soube que isso poderia acontecer algum dia. Mas nunca pensei que seria dessa forma. A pandemia reafirmou meu compromisso com a área que escolhi e destacou ainda mais a importância de ter empatia dentro da minha profissão”, destaca.
“A pandemia reafirmou meu compromisso com a área que escolhi e destacou ainda mais a importância de ter empatia dentro da minha profissão”
O trabalho do HUOC, segundo ele, foi excelente. “O Oswaldo Cruz nasceu pra isso. Ele nasceu para combater esse tipo de situação. E cada dia que passa ele vem mostrando sua força e importância. Sempre foi um hospital que cumpriu o papel ao qual foi idealizado”, completa.
A esperança…
“A esperança surgiu desde que a primeira pessoa tomou a primeira vacina. Tivemos medo no início por conta da demora na chegada (das vacinas), mas estamos no caminho certo”, conta. “A gente fica mais animado, com certeza, mas ainda precisamos seguir os cuidados. A pandemia não acabou”, destaca.


“O que me faz sorrir é ver que os número estão caindo quando recebo os boletins diários sobre os casos de COVID no hospital. Isso me deixa muito feliz. A vida também me deixa feliz. Saber que estou bem e que minha família está tranquila e com saúde me faz muito feliz”, completa.
A mensagem que ele deixa é: “temos que acreditar na ciência e ter empatia com o próximo. Tendo isso como base é possível enfrentar qualquer guerra sanitária.”

Apesar de todas as lutas diante da pandemia, Demétrius consegue sorrir, agora, mesmo por trás da máscara.
